Mau e depois ainda fica pior

A corrida entrou definitivamente na minha vida. Não me considero um runner e muito menos um atleta, sou mais “um tipo que aprecia correr a sua corrida”, considerando-a algo muito pessoal e de difícil descrição.
Com algumas provas nacionais, resolvi que era altura de participar em algo fora de Portugal e inscrevi-me na ‘Movistar Medio Maratón de Madrid 2018’. É aqui ao lado, dá para fazer uma escapadinha de fim-de-semana e ainda se faz o gosto à perna. Para além disso é a internacionalização da ‘coisa’ e vamos para aprender.
Domingo, 8h, dia de prova, uma imensidão de gente e um friozinho que nos faz pensar em voltar para a cama porque até às 9h ainda falta uma eternidade e com certeza que vamos congelar antes da partida.
Com o arranque, temos a “confusão” habitual, com a necessidade de navegar por entre um mar de pernas e sapatilhas. Ânimo que a meta é já ali. O que eu ainda não sabia era que podia estar tão perto mas mesmo assim tão longe. Mas já lá vamos.
Com a altimetria estudada e o plano traçado, vamos lá contar com os abastecimentos, sensivelmente, aos 5, 10, 15Kms e final. E aqui começa o mau.
Aos 5Kms, as primeiras bancadas estão desertas de água e de voluntários. Alguém grita que há água “mas al frente” - “Mau, então?” - sim, estavam corretos, havia, mas no meu caso tive de literalmente arrancar a garrafa da mão de um dos voluntários.
Ao aproximar-me dos 10Kms, novamente o mesmo cenário. Mesas sem ninguém nem água, mas curiosamente vejo uma palete de paletes de água ainda por abrir (???). Felizmente que lá consegui a minha garrafinha (Ufa!).
Com tudo a correr bem, estou para chegar aos 15Kms, onde deveria ser possível encontrar água, sólidos, gel e isotónico. Só que não foi bem assim.
Gel não vi, isotónico idem e sólidos só vi metades de banana já descascadas. Bendita água, que aqui estava a ser corretamente distribuída.
"OK, vamos lá continuar e cruzar a meta." É aqui que vamos entrar no pior.
Faltando sensivelmente 5km para terminar, passo por uma ambulância estacionada e faz-se click – “Olha, não vi nenhum apoio médico no percurso! Nem estacionado e muito menos a acompanhar o pessoal: moto, bicicleta,…; nada! Que raio?!”
Atocha à vista! Curva à direita, pequeno trecho de subida, e vamos lá acabar isto porque a meta é já a 100m. Mais uma feita! Ou talvez não, que esta só vendo para crer!
PAREI, sim, parei a 10m (se tanto) da linha de meta e demorei aproximadamente 1m20s para a cruzar, tantos eram os participantes parados porque o “funil” criado era tal que ninguém conseguia avançar.
E fica-se com aquela sensação estranha que nos tiraram os 0,007Kms finais da corrida.
Fica-se com aquele amargo de boca, a pensar em “como é que isto é possível?”. Depois espera-se 15 minutos até nos darem uma garrafa de água e continuamos a pensar em “como é que isto é possível?”. E depois passam-nos para a mão uma medalha e uma sacola e “Adios!”. E ainda vamos “como é que isto é possível?”.
Hoje ainda estou a pensar que aquilo não era possível de acontecer. Mas aconteceu!



A mais difícil de todas (para me deixassem cruzar a meta)!

Vídeo da chegada
ou
imagens do "garrafão" da Ponte 25 de Abril em dia de greve geral dos transportes públicos

Comentários

  1. Obrigado pela partilha João.

    Caramba que situação tão absurda. Eu por vezes penso que só por cá é que acontecem coisas dessas, não é verdade.

    Um abraço.
    TT

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  2. Belo relato João. Parabéns por mais uma Meia e pela internacionalização. É sempre bom saber que não somos os únicos com problemas.

    Já me aconteceu uma situação semelhante no Grande Prémio do Natal, em Lisboa. Mas já foi há uma série de anos, uma fila enorme para passar a meta. Passei ao lado e nunca mais corri o GP do Natal.

    Runabraço

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  3. Apesar da situação não ser muito feliz, o teu relato é muito divertido.

    Abraço

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